domingo, 1 de janeiro de 2012

Chuva na janela: um breve relato


Um ônibus cheio em pleno 1º de Janeiro. Sonhos, planos, ansiedade para e pelo ano que se inicia. Celulares com internet, livros, Ipod’s, pessoas para conversar, abraçar - e quem sabe  beijar - ao lado. Vidas que iniciam um novo ciclo (ao menos mentais) retornam para casa, para quem sabe relaxar os corpos, voltar para entes queridos ou, ainda, recomeçar  algo ainda reminiscente, que não se perdeu na mudança do ano mas, ao contrário, latejou em uma mente que parece finalmente entender, com a explosão dos fogos, onde está a real felicidade. Apenas conjecturas.

O que se vê, de fato, é uma moça de blusa vermelha que conta sobre a viagem da semana que vem para o rapaz ao lado, contrastando com outra, sentada dois bancos à frente, que retorna da praia, frustrada pelo pouco sol que lá fez. Um bebê olha, com grande atenção, para o pai mexendo no celular enquanto este lança olhares furtivos para uma mulher de ar intelectual que folheia uma biografia de Machado de Assis e está com fones no ouvido que a dispersam do mundo. Atrás dela, um rapaz que digita no celular por bastante tempo¹. Uma senhora carrega consigo um pote de doces e sorri para a vivacidade dos netinhos que a acompanham. Estes, por sua vez, perguntam sobre o funcionamento do clima, dos ônibus, dos aviões, das bicicletas e dos foguetes; mas, principalmente, querem saber quando poderão comer os brigadeiros da vovó, que responde sempre com “já já, meu amor”. Eles fazem um pouco de manha mas no final compreendem o amor de vó e isso os alegra por ora.

O que interrompe essa teia de olhares que se entrecruzam ou se fecham em pequenos círculos e os direciona para um único ponto? Uma tempestade que começa lá fora, presente desde a aurora da humanidade, sendo o foco principal de quase toda relação e construção humanasNaquele instante, todos se silenciaram e o estrondo das gotas no solo e no teto do ônibus era o único som presente neste início de ano.

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¹ Espera-se que ele estivesse anotando tudo o que presenciava para, quem sabe, publicar posteriormente num espaço como este. Seria uma ótima experiência ler este possível relato.

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